Não há um dia que o telefone não toque sem parar. A primeira pergunta sempre é: “Are u OK, hun?”. “Ahan...”, é o que se ouve do outro lado da linha.
Assim o tempo passa, eu ‘na minha’, ele ‘na minha’ também. Então, obviamente, eu me questiono, hesito...mas acabo indagando: “Por que insistir tanto em um lance que já não deu e que, evidentemente, não dará mais certo?”. A resposta: “Impossible is nothing” (mais clichê impossible as well rs). Bem, se DR em português é um saco, imagina em inglês. Desta forma, calo-me.
O telefone toca novamente. “Chega, já estou indo. Se ligar mais uma vez não rola mais!”. Pego o trem. A viagem é curta e interessante. Quando olho pela janela, lá está ele. Saio do vagão. Ele me beija sem pedir licença: “Are u OK, hun?”.
Ele não para de me olhar. Para disfarçar, começo a tirar fotos. Sorte que o lugar é bonito. Ele parece uma criança ao meu lado. No começo, isso me irrita, rola uma sensação de compaixão+carinho. Confusão. “Are u OK, hun?”.
Depois de séries de ‘euteamos’ respondidos com sorrisos complacentes, amanhece.
Outro trem. Juras de amor unilaterais, impaciencia: “Are u OK, hun?”. De repente, Liverpool. Já da estação sinto a vibe dos Beatles, assim como o cheiro salgado da cidade.
The Beatles Story Museum. Pequeno, porém repleto de significados e níveis de compreensão e sensibilidade diversos. O espaço obtuso faz uma passagem radical do concreto (como a motoca que Lennon dirigia qdo adolescente) até o que há de mais íntimo e singelo. Lá moram o esboço de “Hey Jude”, brainstorms de Lennon, pedaços da fase ‘namaste’ de Harrison, provas do carinho de Paul por Linda; entre outros detalhes quase infinitos...Emociono-me. “Yes, I am OK”.
Óculos engraçados para cineminha 4D sobre a banda. Risadas. Água no rosto “We all live in a yellow submarine”. Bolhas de espuma no ar...”Carla in the sky with...” Ops, terminou. Corrida-contra-o-tempo para não perder o trem para...já foi. E agora, José? “No, I am not OK at all”.
O carinho incessante e o tratamento princesa-rainha me fazem ceder um pouco. No entanto, ainda não me sinto confortável .”I get high with a little help of my friend...”. Risadas, devaneios...quem é vc, afinal?
Outro dia, outro trem. Tudo muito rápido. Não consigo raciocinar direito. Olho para o lado e, para variar, lá está ele me observando, carregando todas as minhas coisas.
Corro para não perder a viagem (outra vez, não!). Ele me abraça forte, dizendo mais uma vez que me ama. Meu coração aperta. Olho pela janela e vejo ele correr junto ao trem e dizer com os olhos ‘o de sempre’.
Durmo, acordo assustada. Cheguei? Not yet. Começo a chorar sem parar. O que tá pegando? O que segue acontece roboticamente, até eu receber um torpedo: “Are u OK, hun?”.
Ao perceber que estou partindo velozmente para o mundo-do-faz-de-conta, um amigo esperto consegue me puxar para a realidade no momento exato e, com suas sábias palavras, coloca meus pés no chão: ”Fica bem, viu?”, ele me diz. No dia seguinte, respondo: “Eu já estou ótima, muito obrigada”. Yeah, yeah, yeah...
NAMASTE