segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Desfoque-se do seu foco

Não lembro com clareza como começou, só sei que foi bastante vívido. Foi tão real, apesar do contexto surreal, que foi impossível me esquecer dele. Foi o sonho mais simbólico que tive. Não sei qual foi o motivo que me trouxe esta recordação... Talvez um toque do inconsciente  ;) ?

O sonho aconteceu em uma sala totalmente vazia, com uma só parede. A cor dela era muito forte, nada agradável aos olhos. A minha primeira sensação foi de repulsa. A seguinte? De curiosidade...

Havia um quadro encostado, de maneira tímida, naquela parede. Estava envolto em uma moldura clássica e de bom gosto. Pensei: “O que este objeto tão refinado faz nesta sala?”. Foi quando resolvi observar o quadro de fato. Estava incompleto, parcialmente pintado. De repente, saquei qual era minha função ali ....Tinha que finalizar o inacabado. 
  
Se expressar-se não é tarefa lá muito fácil, imagina dar continuidade e terminar a expressão alheia? A sensação passou a ser de angustia: “Que responsabilidade concluir o trabalho de outra pessoa!”  Sem contar o fator óbvio e crucial: impossível transmitir o que o autor realmente deseja, pois as emoções são dele...só dele...

Luzes e trovões...Comecei a dar  "graças a Deus" pelo lance ser abstrato. Isto é, poderia ter mais liberdade do que imaginava...

Só me restou fechar os olhos. Uma montanha de devaneios tomou conta de mim. Não racionalizei, apenas imaginei cores que nem existem. Era só pensar em uma... que a lata de tinta, que flutuava a meu lado, mudava os tons de seu conteúdo concomitantemente com meu  “raciocínio”. Foi assim que, através de uma associação livre de ideias, finalizei a obra de outra pessoa.

Fiquei satisfeita com o resultado, até porque a conclusão tinha sido realizada antes do  deadline (sim, no meu sonho havia um tempo pré-estabelecido). Contudo, faltava executar outra tarefa: encontrar o local ideal para pendurar o quadro.

Distancie-me da parede, tentando vislumbrar o lugar onde colocaria a arte. Mudei a posição da pintura trocentas vezes. (em vão). Então pensei que a alternativa fosse fugir do obvio, mudando o ângulo do objeto (em outras palavras, deixando a parada torta hahahah). Sem sucesso.

Do nada, começou a tocar uma campainha em minha cabeça, como se fosse uma bomba em contagem regressiva. Eu tinha que pendurar aquilo de uma vez! Poxa, a parte mais difícil eu já tinha feito, como não conseguiria colocar a p* de um quadro em uma simples parede???

O barulho na minha cabeça e a angústia de: “Meu Deus, não vai dar tempo” me desesperaram. Foi aí que me dei conta de que a parede era, alem de feia, triste. Era impossível que qualquer obra de arte ficasse bem ali! Com a contagem regressiva rolando sem piedade, só tinha uma saída: detonar aquilo. Meu primeiro ímpeto foi derruba-la, mas não, me neguei a seguir o caminho mais fácil. Optei pelo prático: em mudar a cor daquele negócio. Então, de maneira muito rápida, várias outras latas de tinta surgiram.

Como um ser insano lutando contro o tempo, fui misturando diferentes tons ao jogar (literalmente) cada lata contra a parede. Para meu espanto, as paletas se mesclaram de maneira sublime. Respirei fundo, afinal, o cansaço físico e mental já tinham tomado conta de mim.  

Aos poucos, uma forte sensação de bem-estar me preencheu, pois meu dever havia sido cumprido. Olhei para o quadro e decidi colocá-lo de volta ao lugar original. No chão, no cantinho da sala- de- só-uma- parede.

Foi quando o barulho infernal parou e eu acordei.

Por que tive que penar tanto pra sacar que era a parede (que me incomodou desde o início), que precisava ser transformada, não o quadro?

Porque é assim que agimos no nosso dia a dia. Nos exasperamos com as coisas mais simples porque simplesmente não conseguimos (muitas vezes nem tentamos) mudar o foco para resolver a situação. Ceder e reconhecer que estamos no caminho errado não é fácil. Muitas vezes vamos até o fim (mesmo sabendo que não dará certo) só pra "pagar pra ver". É o ego batendo forte...

É tão besta pensar que se desfocar do foco pode ser  "a grande saída", não?  Pois esta será a minha onda em 2011. Pode soar simplista, mas o que eu quero é meio por aí mesmo: descomplicação! Será que rola? rs

2 comentários:

Unknown disse...

Incrível.....muito interessante essa analogia do seu sonho com a vida.

Achei fantástico!

Carla disse...

Poxa, agradeço de coração :)